A história da Thunder Foods está intimamente ligada à da Entogreen. Posicionadas no mesmo ramo de negócio - a produção bioindustrial de farinha proteica à base de insetos - as empresas seguiram caminhos separados quando a Entogreen se focou, em exclusivo, na produção da Mosca Soldado Negro para a alimentação animal. "A Entogreen trabalhava, inicialmente, com dois insetos: a Mosca Soldado Negro e o Tenebrio Molitor. A certa altura, a Entogreen considerou que a legislação para a alimentação à base de insetos ia ser mais rápida para alimentação animal, dedicando-se, sobretudo, à Mosca Soldado Negro, inseto com o qual viria a trabalhar de forma exclusiva a partir de 2020, altura em que a legislação já estava aprovada", explicou Diogo Palha, CEO da Thunder Foods.
Com trabalho feito e uma equipa exclusiva dedicada ao Tenebrio Molitor, os acionistas decidem, assim, dar origem a uma nova empresa: a Thunder Foods, que se dedica, a partir de abril de 2021, à produção de farinha de inseto com base no Tenebrio Molitor para a alimentação humana. "Curiosamente, aquilo que não se sabia se ia demorar muito ou pouco, acabou por acontecer muito rapidamente: logo em 2021 a Comissão Europeia aprovou o Tenebrio Molitor como um dos cinco insetos para a alimentação humana", contou Diogo Palha, advertindo, no entanto que "embora a empresa se foque na criação de farinhas de inseto para alimentação humana, a empresa não está limitada a esta vertente, uma vez que o Tenebrio Molitor pode também ser utilizado para a alimentação animal".
Face ao background com que nasceu - embora recente, o trabalho da empresa foi uma continuação do já desenvolvido na Entogreen - a Thunder Foods tinha, por isso, as ferramentas necessárias para dar cumprimento imediato aos seus objetivos: estabelecer o processo de biotecnologia e demonstrar que seria possível caminhar para a industrialização da farinha proteica de inseto à base de inseto para incorporação em diversos produtos alimentares, sobretudo no âmbito da alimentação humana, mas também no âmbito da alimentação animal "sempre que houver oportunidade e se justifique". Neste sentido, a empresa integrou, logo em 2021, duas Agendas financiadas pelo PRR: a Agenda Verde "Embalagem do Futuro" e a Agenda Mobilizadora "InsectERA", candidatada pela Entogreen e onde lidera o Eixo InFood, dedicado à alimentação humana. Paralelamente, a empresa candidatou-se a dois projetos europeus que arrancaram em 2022: InFishMix, consórcio luso-norueguês que liderou na área da alimentação animal e Cheers, consórcio internacional na área da alimentação humana.
No fundo, são estes os quatro projetos que têm permitido à Thunder Foods "financiar o seu desenvolvimento" e que resultaram no crescimento da empresa, passando a mesma de dois colaboradores, aquando da criação da empresa, para os atuais 11 funcionários.
Neste momento, a empresa está a crescer e a dar o primeiro passo rumo à industrialização da sua farinha de inseto: estando atestada a qualidade e potencial da sua matéria-prima é necessário, agora, perceber como escalar e industrializar o processo e, para isso, é preciso um novo espaço que possa dar resposta a esta necessidade. A empresa, que tem instalações em Santarém, vai mudar-se já a partir de maio para o concelho vizinho de Rio Maior, onde encontrou, no Parque de Negócios da cidade, as condições ideais para a criação de uma nova unidade de I&D, "com melhor capacidade para desenvolver os projetos e uma resposta mais adequada aos ensaios e testes dos nossos parceiros na incorporação da nossa farinha de inseto nos seus produtos alimentares" esclareceu Diogo Palha. "No fundo, a Thunder Foods produz um ingrediente novo que vai ser utilizado por outras indústrias, seja em alimentação humana ou animal, e é necessário testar o desenvolvimento dos diversos produtos alimentares com a nossa farinha de inseto, o que vai ser possível agora nesta nova unidade de I&D, que se prevê estar a funcionar em pleno até ao final do ano", detalhou o CEO da Thunder Foods.
A abertura da unidade de I&D em Rio Maior faz parte de um plano de investimentos total na ordem dos 13 milhões de euros até ao final de 2026, e onde se inclui o próximo passo desta jornada da Thunder Foods rumo à industrialização: a abertura de uma unidade industrial piloto que será a maior linha de produção de produtos derivados de insetos para alimentação humana em Portugal.
Financiada pelo PRR no âmbito da Agenda Mobilizadora InsectERA, esta unidade piloto, pensada inicialmente para Pernes, no concelho de Santarém, deverá instalar-se num terreno contíguo à unidade de I&D, em Rio Maior, prevendo-se que esteja em funcionamento no final de 2026 com capacidade para produzir dezenas de toneladas de farinha de inseto por mês, principalmente destinadas à alimentação humana.
Barras energéticas, biscoitos, bolachas, produtos de padaria, massas alimentícias, suplementos nutricionais - neste momento, a Thunder Foods, no âmbito do projeto Cheers já está a trabalhar no desenvolvimento de uma bebida proteica - entre outros, são alguns dos produtos alimentares que poderão vir a contar com a incorporação de farinha de inseto. "É provável que em 2025 já tenhamos empresas a colocar produtos finais no mercado com incorporação de farinha de inseto produzida pela Thunder Foods", fez saber Diogo Palha, acrescentando ainda que espera que estes produtos foquem a sua comunicação não no facto de serem produzidos com farinha de inseto, mas nos quatro pilares da Thunder Foods: Saúde, Sabor, Sustentabilidade e Segurança. "Um desafio das nossas empresas parceiras, e que nos importa naturalmente, é ultrapassar a questão da repulsa quanto ao consumo de insetos. É preciso focar a comunicação nestes nossos quatro S, e não no inseto em si. Estamos empenhados em produzir uma proteína de alta qualidade com uma série de vantagens para o consumidor. Por acaso, é de inseto", referiu o responsável da Thunder Foods.
InFishMix testou dieta mais sustentável para aquacultura
Os insetos podem ser uma ferramenta muito interessante como fonte proteica alternativa mais sustentável e promotora de benefícios funcionais relevantes e foi isso que um consórcio internacional luso-norueguês liderado pela Thunder Foods, em parceria com a Entogreen, visou demonstrar com o desenvolvimento do projeto InFishMix no qual se testaram novas dietas com a incorporação de um mix de farinha de Tenebrio Molitor e de Black-soldier-fly, formuladas de forma a garantir todas as necessidades nutricionais do salmão e do robalo em aquacultura. Os resultados do projeto foram apresentados no dia 18 de abril no Oceanário em Lisboa, com a presença de um representante da Embaixada da Noruega e de vários stakeholders de toda a cadeia de valor da aquacultura a nível ibérico, tendo ficado demonstrado o potencial da utilização das farinhas de inseto na alimentação de salmão e robalo em aquacultura.
Ao longo do projeto InFishMix, foi testado o desempenho de um novo ingrediente à base de inseto na dieta do salmão e robalo de aquacultura, sendo este ensaio seguido de provas que permitiram avaliar o impacto na saúde do pescado, bem-estar animal, e na resposta ao stress. Foi também avaliada a qualidade e segurança alimentar do pescado de forma a garantir que o consumidor final tem acesso a um produto de qualidade superior.
Como resultado final do projeto InFishMix, destaca-se o desenvolvimento de uma nova dieta à base de inseto para salmão e robalo de aquacultura "mais sustentável e económica", que "atende melhor as necessidades dos peixes", possibilitando "o crescimento sustentável da aquacultura", no total de 3 novos produtos, 4 novas marcas e 17 postos de trabalho criados.
"A dinamização do projeto InFishMix foi um marco muito relevante para a curta história da Thunder Foods, uma vez que tivemos oportunidade de liderar um consórcio internacional luso-norueguês logo no início da nossa caminhada", começou por dizer Diogo Palha, referindo que este foi, de facto "um projeto muito interessante, quer do ponto de vista dos resultados práticos, onde ficou demonstrada a qualidade das dietas, quer do ponto de vista institucional, permitindo à empresa solidificar parcerias, criar laços para projetos futuros e dar-se a conhecer de uma forma abrangente através da participação em diversos eventos internacionais".
O consórcio liderado pela ThunderFoods em parceria com a Entogreen para a dinamização do projeto InFishMix, foi composto por três centros de investigação: dois portugueses - a Egas Moniz School of Health and Science e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto - e um norueguês - o NORCE. O projeto foi financiado no âmbito do Programa Crescimento Azul dos EEA Grants, mecanismo financeiro criado pela Islândia, o Liechtenstein e a Noruega que visa reforçar as relações bilaterais entre estes três países e outros países europeus, como Portugal, favorecendo sinergias e reduzindo diferenças de desenvolvimento.
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Os insetos surgem na alimentação humana como alternativa adicional para enfrentar um importante desafio societal: alimentar uma população mundial em crescimento num planeta no qual a área e a capacidade de produção agrícola não conseguirá acompanhar as necessidades futuras com as fontes tradicionais.
Assim, estas novas fontes nutricionais vão, mais do que substituir, somar-se às atuais e, na medida do possível, implementar processos de economia circular, mais sustentáveis, gerando mais com os mesmos recursos naturais.
Embora ainda geradores de alguma repulsa sobretudo para as populações do Ocidente, os insetos já integram a alimentação de uma parte substancial da população mundial, sobretudo na Ásia e em África, e têm vindo a revelar-se, pela sua qualidade e características funcionais, um ingrediente diferenciador que adiciona valor aos produtos gerados, não somente pela acrescida sustentabilidade dos processos com que são obtidos, mas, acima de tudo, pelo valor nutricional e sabor.